A diretora Administrativa, Financeira e de Fiscalização da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rosa Neide (PT), confirmou que deixará o cargo no dia 31 de março de 2026 para disputar novamente uma vaga de deputada federal. A ex-parlamentar, que foi a mais votada em Mato Grosso nas eleições de 2022, mas acabou ficando de fora da Câmara devido ao quociente eleitoral, concedeu uma entrevista No Ar, com o jornalista Geraldo Araújo, na qual avaliou o cenário político estadual e nacional, analisou o desempenho do PT em Mato Grosso e detalhou seus planos para 2026.
Segundo Rosa Neide, o resultado da eleição anterior, embora frustrante, serviu como aprendizado. “A gente vem avaliando muito o que aconteceu na eleição passada. Eu recebo telefonemas de várias universidades do Brasil, de gente que está fazendo dissertação e tese de doutorado sobre o meu caso, estudando o sistema eleitoral brasileiro. Tive quase 8% dos votos válidos do estado e, mesmo sendo a mais votada, fiquei de fora. No primeiro momento foi um impacto muito grande, mas a gente aprende a caminhar e segue trabalhando”, disse.
Desde que assumiu a diretoria da Conab, Rosa afirmou que ampliou sua atuação nacional. “Hoje eu trabalho mais do que no período em que fui deputada, porque a responsabilidade é com o país inteiro. Às vezes estou em Brasília pela manhã, em São Paulo à tarde e em outro estado à noite. Nós discutimos temas como o ProVB, a política do arroz e os pagamentos aos agricultores em todo o país. A discussão sobre o alimento, o Brasil sair do mapa da fome e garantir comida de qualidade na mesa da população é algo muito gratificante”, pontuou.
Rosa afirmou que o governo Lula tem um compromisso humanitário e que isso a motiva a seguir na política. “Temos um presidente que pensa em todos os brasileiros, em cada família que precisa tomar café, almoçar e jantar todos os dias. Esse é o projeto que eu defendo e que quero continuar ajudando a construir”, afirmou.
Sobre 2026, a petista confirmou sua intenção de disputar as eleições e detalhou o processo. “No próximo ano é ano eleitoral, e eu vou me desincompatibilizar a partir de 31 de março. A partir de abril, estarei definitivamente nas ruas, percorrendo todo o Estado. Já ando por Mato Grosso sempre que tenho oportunidade, participando de reuniões presenciais e virtuais praticamente todos os dias. A federação – PT, PV e PCdoB – está se organizando e montando uma chapa forte para que o que aconteceu comigo em 2022 não se repita”, disse.
Ela explicou que faltaram cerca de 13 mil votos para que a federação conquistasse uma cadeira em 2022. “Se tivéssemos 30 mil votos a mais, teríamos eleito dois deputados. É uma lei injusta. Mas agora estamos estruturando bons nomes, como o ex-senador Antero Paes de Barros e a ex-primeira-dama de Rondonópolis, Neuma Moraes, que já estão somando conosco. Tenho certeza de que, desta vez, a federação vai eleger representantes”, afirmou.
Questionada sobre o caso da Esther Caroline, que ficou conhecida nacionalmente como Tigresa Vip, que poderia ter garantido os votos que faltaram, Rosa Neide afirmou que não houve preconceito, mas problemas de filiação partidária. “Ela era de Alta Floresta e se filiou por Barão de Melgaço sem fazer a comunicação necessária. O PT é um partido orgânico, com ritos e regras claras. Não se trata de rejeição, e sim de respeitar o estatuto interno. Temos casos como o da presidente do Sindicato das Prostitutas do Ceará, que foi candidata pelo PT por sua militância de anos. O partido respeita a todos, mas exige organização e filiação regular”, explicou.
Durante a entrevista, Rosa Neide foi questionada sobre uma possível aproximação com o senador Jayme Campos (União Brasil) e até mesmo sobre uma eventual composição política em Mato Grosso. A petista não descartou o diálogo e fez elogios ao senador, a quem classificou como um “democrata”.
“O senador Jayme Campos é uma pessoa com quem já conversei várias vezes. É um democrata, um homem público que tem uma trajetória de diálogo. Ele vota cerca de 80% das pautas do governo Lula no Senado e sempre demonstrou respeito institucional. É alguém com quem se conversa, porque nunca defendeu ditadura, nunca fez alusão a regimes autoritários e nunca tratou adversário político como inimigo. Isso, para nós, é fundamental”, afirmou.
Ela destacou que o PT busca alianças com lideranças que defendem a democracia, independentemente do partido. “O nosso presidente nacional, Edinho Silva, orientou que o PT em Mato Grosso construa candidaturas próprias ao governo e ao Senado, mas também mantenha diálogo com partidos e figuras democráticas. Nós não conversamos com a barbárie, com quem defende bomba, destruição e ódio. Mas com quem defende o Brasil, a democracia e o povo, estamos sempre abertos ao diálogo”, ressaltou.
Rosa Neide ainda citou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), como outro exemplo de aliado político e afirmou que o PSD tem sido um parceiro importante do governo federal. “Em 18 Estados o PSD apoia o presidente Lula. O ministro Fávaro tem conduzido o partido com responsabilidade e diálogo. Aqui em Mato Grosso, o senador Jayme e a médica doutora Natasha Slhessarenko, também do PSD, têm discutido projetos conosco. São pessoas que acreditam no debate democrático e no desenvolvimento do Estado”, disse.
A dirigente da Conab defendeu que o PT mantenha uma postura de diálogo e equilíbrio, e rejeitou a imagem de que o partido seja radical. “Dizem que o PT é radical, mas o presidente Lula é a pessoa menos radical do país. Foi ele quem chamou Geraldo Alckmin, um adversário histórico, para ser vice. Isso mostra o quanto o diálogo é possível. O Brasil precisa de gente disposta a conversar e construir, não a destruir”, completou.
Por fim, Rosa afirmou que a meta da federação é fortalecer a base do presidente Lula e lançar uma chapa estadual competitiva. “Queremos ter candidaturas ao governo, ao Senado e aos cargos proporcionais, com pessoas comprometidas com o projeto de reconstrução do Brasil. E isso inclui todos que respeitam a democracia e acreditam no diálogo como ferramenta política”, concluiu.
